A Síndrome de Ulisses, também conhecida como Síndrome do Imigrante com Estresse Crônico e Múltiplo, é um termo criado pelo psiquiatra espanhol Joseba Achotegui para nomear o sofrimento emocional vivido por pessoas que deixam seu país de origem em busca de uma vida melhor — e se deparam com desafios que vão muito além da adaptação.
Assim como o herói Ulisses, da mitologia grega, que enfrentou longas jornadas e inúmeros obstáculos para retornar ao lar, os imigrantes também atravessam mares simbólicos: a distância, a solidão, a saudade, o choque cultural e as perdas afetivas.
💭 O que caracteriza essa síndrome?
A Síndrome de Ulisses não é uma doença mental no sentido clínico tradicional, mas sim um estado de sofrimento extremo, provocado por uma soma de fatores estressores.
Entre os sintomas mais comuns estão:
Ansiedade constante
Tristeza profunda e choro frequente
Insônia e cansaço
Dificuldade de concentração
Sentimentos de culpa ou fracasso
Sensação de não pertencimento
Esses sintomas são uma resposta humana diante de situações-limite: separação da família, barreiras linguísticas, precariedade econômica, discriminação e isolamento social.
🧠 Um olhar psicanalítico
Pela perspectiva psicanalítica, migrar não é apenas mudar de território.
É atravessar uma perda simbólica: de raízes, de referências, de pertencimento.
O sujeito que migra precisa reconstruir sua identidade em um novo cenário — muitas vezes sem espelho, sem reconhecimento, sem idioma afetivo.
A Síndrome de Ulisses pode revelar um luto não elaborado.
Um luto pela casa que ficou, pelos vínculos que se romperam, pela vida que poderia ter sido.
E como todo luto, precisa de espaço para ser sentido, narrado, simbolizado.
💬 Como lidar?
🧭 Nomear o sofrimento é o primeiro passo. Entender que o que você sente não é fraqueza, mas uma reação legítima a uma experiência intensa.
🤝 Buscar acolhimento — seja com profissionais da saúde mental, grupos de apoio ou amigos — ajuda a reconstruir vínculos e pertencer novamente.
💬 Falar sobre o que se sente, na língua que se tem, com as palavras que se pode, é uma forma de elaborar.
🌱 E, aos poucos, permitir-se criar novas raízes, sem apagar as antigas.
✨ A psicanálise oferece um espaço de escuta para esse sujeito em travessia — um espaço para ressignificar dores e reconstruir a própria narrativa.
Porque todo Ulisses carrega dentro de si o desejo de voltar para casa — ainda que essa casa, hoje, precise ser construída dentro de si.
📍 Por Paula Gualda
Psicanalista | Psicoterapeuta Integrativa
💬 Acolhimento, escuta e presença para quem está longe — de casa, de si, de um lugar de pertencimento.
